O que é um Embromance?

Mais do que a simples análise e interpretação de suas palavras, o leitor, ao ler um texto, aprecia a sua métrica e, ao meu ver, principalmente, a sua sonoridade.
Toda palavra, além de um significado, possui uma forma e fonética, que auxilia a transmitir o grau de austeridade ou informalidade do que se quer comunicar.
Partindo-se destes pressupostos, os Embromances buscam exaltar a forma e a sonoridade em suas expressões, em detrimento completo de sua lógica ou real significado.
Cabe a eles embalar o leitor em uma atmosfera superficial de eruditismo e exaltação emotiva, sem que contudo coliguem-se as informações contidas em cada real significado das frases.
Menos vale o "ser" do que o "parecer ser".
Mais vale o símbolo do que o significado.
Não há como entendê-los sem experimentá-los.
Embarquem nesta experiência e apreciem.

domingo, 28 de junho de 2009

Anauê, vovó

-Tio Barmstorng! Tio Barmstrong! - Era vivo o menino. E não podia deixar de ser. Sua mãe fora costureira durante a Segunda Guerra. Não contávamos, contudo, com tão inesperada zoeira. Era cedo, e, nestes dias, o inverno era rigoroso. Capaz de gelar os ossos até mesmo dos cavalos! Era, então, surpreendente ver Huck já fora da cama. – A vovó comeu meu bolo? – perguntava, sem pensar. Pobre alma de criança, sempre inventando o que falar... E o silêncio foi mantido, mesmo que involuntário. O menino voltou para o quarto e a cozinha encheu-se de vida, como convinha à hora do almoço. É nesta hora, quando comem os servos, que mais fartura se encontra nas vasilhas e pratos. –Como comem esses meninos! - foram suas últimas palavras. E tombou sobre a sopa, amarelo e fatigado. Já fugia-se o tempo em que o mesmo era visto, trabalhando nos campos ou servindo no roçado. E foi, talvez por isso, que não viu-se, em ninguém, sombra de espanto ou perplexidade. –Junte-se aos ratos! – foi o que disse a nobre senhora, que adentrava. E foi a gota d’água. Nunca se vira tamanho destempero ou tamanha intemperança, vindo daquela casa. Era cedo, e, como eu já disse, o frio era insuportável. Tio Ralph trouxe a coberta, mas o desconforto já se instalara. O menino retorna insistindo – Foi a vovó quem comeu? – novo silêncio. Como explicar-lhe que sua vó falecera a trinta anos atrás? Ele não podia aceitar que ela lhe deixara, mesmo antes de conhecê-lo. Era triste ver o menino inventando jogos, em que a avó sempre participava. Rudemente, Tio Ralph mandou que ele se calasse. Tão descortezmente que a própria cozinheira não pôde suportar. – Sangrem o porco!- gritou, descontrolada. E partiu em sua direção, com um objeto afiado. O menino, como por instinto, saltou diante da faca. Nunca haviam-no visto em defesa de ninguém. Muito menos Tio Ralph, um senhor esclerosado que jamais se recuperara de suas perdas, apostando em cavalos. Mas permaneceu imóvel, o corpo perfilado diante do tio. A luz que entrava da janela, com seus tênues raios de sol empoeirados, davam a ele uma coloração luminosa, como um anjo justiceiro e ameaçador. O som da faca, caindo no chão gelado da cozinha, cortou o clímax que se instaurara diante de todos e serviu de aviso a uma possível nova ameaça. Ninguém, nem o mais rebelde dos empregados, ousaria levantar as mão contra Huck. O menino era uma espécie de guardião-mirim da fazenda, conhecendo dela todos os seus segredos. Já o haviam visto, mesmo, caminhando sobre o lago, numa noite de tempestade. – Anauê, Vovó! – ouviram-no gritar. E então, como quem pega um brinquedo, pegou a faca no chão e devolveu-a à cozinheira. As lágrimas escorriam, mas Tio Ralph retirou-se em silêncio, e jamais comentou o fato.

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