Cansado de mais um dia de trabalho, ele chegava em casa. Sozinho desde a separação, pega uma garrafa de água e caminha para a televisão. A velha cadeira de sempre havia de confortá-lo enquanto assistia ao telejornal. O telefone toca e ele, sem perceber, derrama o líquido, molhando os grossos volumes de enciclopédia que, por mais um dia ,não conseguira vender. Tentado a não atender, o faz pela aguda insistência do toque estridente. Ao reconhecer a voz feminina, hesita e desliga. Para completar seu dia, agora aquela ligação. Pega uma toalha e começa a secar as páginas quando novo toque o desperta. -Meu Deus, não se pode mais cuidar da própria vida sem que algum incidente se perpetue! Alô!!- ele atende com o pior dos humores. A mesma voz feminina mal começa a balbuciar e ele torna a colocar o fone no gancho. Melhor seria naquele momento evitar qualquer aproximação que pudesse comprometê-lo. Tinha o emprego, as crianças, não valia a pena pôr tudo a perder por uma aventura. Dirige-se ao quarto, pega uma toalha meio úmida, pendurada na maçaneta e liga o chuveiro. A água caindo sobre sua cabeça esfria o corpo e lhe traz à mente o cansaço de mais um dia rotineiro de trabalho. Que vida sem sentido seria aquela que ele não via nos sorrisos instigantes dos anúncios de revistas. Seria apenas impressão ou ninguém no mundo tinha vida tão chata e sem amigos... Pensou que deveria ter atendido o telefone. Desliga o chuveiro e, como por impulso, pega uma roupa qualquer com a qual possa vestir-se. Pilhas de camisas amassadas e sujas se amontoam diante de seus olhos. Com ela teria sido diferente... Aromas perfumados e camisas engomadas, separadas por cor. O som das crianças correndo para a sala quando ele chegava e o abraço caloroso e amável dos filhos. “Tem coisas que a vida nos rouba e que nem um joalheiro nos pode forjar”. Essa frase de mamãe ressoava como vingança por anos de perdidos bons conselhos. “Se ouvisses sua mãe, em muito a sua vida mudaria”. Era um desfile de rostos,de frases,de tios e tias, a grasnar arrogantes contra um jovem solteiro e sem rumo. O interfone toca e, ainda molhado, toalha amarrada, puxa-o do gancho. “Mathias!” Meu Deus, ela veio até aqui! “Pois não?”- respondi. “O Mathias, por favor?”-insistiu. “É no prédio ao lado! Segundo andar!”. Era preciso ganhar tempo. “Mas o prédio ao lado é um comércio!”-diz a voz. “O outro lado, minha filha!” –respondi impaciente querendo pôr fim à questão. Diante do silêncio demorado, coloquei o fone no gancho. Dirigi-me à janela e pude vê-la correr até a esquina e dobrá-la, à procura do próximo prédio.
Anoitece e, já de pijamas, algo me desperta a mente. Do outro lado do prédio havia uma casa, há tempos abandonada, após a morte de uma criança no segundo andar. Visto o sobretudo, calço os sapatos e corro escada abaixo, resfolegante, em busca do inevitável. As luzes dos carros e a sirene da polícia que há pouco fechara a rua deu o tom da desgraça. Doze facadas. Uma doce mulher, com um cesto aonde embrulhara meia dúzia de pães frescos, fôra surpreendida por um triste destino. O leiteiro que passava no local, apenas pôde ouvir , em voz abafada, suas últimas palavras, que estampariam as manchetes de jornal: “Por um lanche, meu amor, por um lanche...” E o crânio afundou no patê.
O que é um Embromance?
Mais do que a simples análise e interpretação de suas palavras, o leitor, ao ler um texto, aprecia a sua métrica e, ao meu ver, principalmente, a sua sonoridade.
Toda palavra, além de um significado, possui uma forma e fonética, que auxilia a transmitir o grau de austeridade ou informalidade do que se quer comunicar.
Partindo-se destes pressupostos, os Embromances buscam exaltar a forma e a sonoridade em suas expressões, em detrimento completo de sua lógica ou real significado.
Cabe a eles embalar o leitor em uma atmosfera superficial de eruditismo e exaltação emotiva, sem que contudo coliguem-se as informações contidas em cada real significado das frases.
Menos vale o "ser" do que o "parecer ser".
Mais vale o símbolo do que o significado.
Não há como entendê-los sem experimentá-los.
Embarquem nesta experiência e apreciem.
Toda palavra, além de um significado, possui uma forma e fonética, que auxilia a transmitir o grau de austeridade ou informalidade do que se quer comunicar.
Partindo-se destes pressupostos, os Embromances buscam exaltar a forma e a sonoridade em suas expressões, em detrimento completo de sua lógica ou real significado.
Cabe a eles embalar o leitor em uma atmosfera superficial de eruditismo e exaltação emotiva, sem que contudo coliguem-se as informações contidas em cada real significado das frases.
Menos vale o "ser" do que o "parecer ser".
Mais vale o símbolo do que o significado.
Não há como entendê-los sem experimentá-los.
Embarquem nesta experiência e apreciem.
domingo, 28 de junho de 2009
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