O que é um Embromance?

Mais do que a simples análise e interpretação de suas palavras, o leitor, ao ler um texto, aprecia a sua métrica e, ao meu ver, principalmente, a sua sonoridade.
Toda palavra, além de um significado, possui uma forma e fonética, que auxilia a transmitir o grau de austeridade ou informalidade do que se quer comunicar.
Partindo-se destes pressupostos, os Embromances buscam exaltar a forma e a sonoridade em suas expressões, em detrimento completo de sua lógica ou real significado.
Cabe a eles embalar o leitor em uma atmosfera superficial de eruditismo e exaltação emotiva, sem que contudo coliguem-se as informações contidas em cada real significado das frases.
Menos vale o "ser" do que o "parecer ser".
Mais vale o símbolo do que o significado.
Não há como entendê-los sem experimentá-los.
Embarquem nesta experiência e apreciem.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Tia Rufina

Colocou as mãos na cabeça e parou , por alguns instantes. O que acabara de ver lhe proporcionara um momento de profunda reflexão. Tirando seus óculos, guardou-os no bolso, a fim de ver com os próprios olhos a cena que, por muito tempo, temeu encontrar. Logo pela manhã, lhe previra o rabino – “Às vezes, no mundo, a justiça se paga!” – triste presságio... Não guardava superstições, mas temia confrontá-las. “Ninguém está a salvo do que a vida tece e fia”, dizia Tia Rufina, enquanto teava. Voltavam em sua mente rostos e palavras, ditos e preditos, numa procissão de imagens que se moviam velozmente, formando um caleidoscópio confuso e arrebatador. Nunca, pensava, pudera colher de forma tão abrupta os frutos que plantara em juventude, mesmo os mais esterçados. E com um gesto de extrema frieza, ao olhar para a frente, diante de tal desgraça, retirou seu chapéu, de abas amassadas, e pôs-se a cantar - porque não? – canções antigas que Tia Rufina lhe ensinara. Foi-lhe seguindo um e mais outro, até que , em coro egrégio, uma pequena multidão se formara. E era triste, vê-los, coligados, enaltecerem um tempo em que juntos se encontravam, livres e isentos, de flores e mortalhas. E naquele instante, pela angústia ermanados, surgiu do vento a mais rara sintonia. Como um relâmpago que cala a noite fria, a tosca porta bateu, desgovernada. Calou-se o canto e, na sala emudecida, presenciou-se a mais doce presença viva do que foram os áureos tempos de cada vida, ali confinada. Sem notar, surgiram lágrimas nos olhos, de quem, a tempos, não sorria e não chorava. De um fato torpe restauraram-se amizades, surgiram laços onde as rusgas imperaram. Temeu-se um dia ter-se ao outro odiado e ninguém mesmo ali antes se conhecia. Vidas se uniram, histórias se trocaram. E todos saíram dali mais humanos e humanitários. “Em todo chão se encontram agulhas” – dizia Tia Rufina. E, mais do que nunca, isto agora o consolava.

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