O que é um Embromance?

Mais do que a simples análise e interpretação de suas palavras, o leitor, ao ler um texto, aprecia a sua métrica e, ao meu ver, principalmente, a sua sonoridade.
Toda palavra, além de um significado, possui uma forma e fonética, que auxilia a transmitir o grau de austeridade ou informalidade do que se quer comunicar.
Partindo-se destes pressupostos, os Embromances buscam exaltar a forma e a sonoridade em suas expressões, em detrimento completo de sua lógica ou real significado.
Cabe a eles embalar o leitor em uma atmosfera superficial de eruditismo e exaltação emotiva, sem que contudo coliguem-se as informações contidas em cada real significado das frases.
Menos vale o "ser" do que o "parecer ser".
Mais vale o símbolo do que o significado.
Não há como entendê-los sem experimentá-los.
Embarquem nesta experiência e apreciem.

domingo, 29 de agosto de 2010

Sacrofício

"É sobre isso que gostaríamos de falar com o Senhor", interviu o romeiro. Fora chamado ali às pressas, sem que tivesse ao menos a chance de se inteirar de sua alcunha. Haviam muitos afazeres nesta época do ano e não se dava conta das pequenas agruras que sua atividade cotidiana enxertava. Fora , outrora repreendido publicamente acerca de seus hábitos, mas deixara claro, decerto, a insolência dos transeuntes no trato de suas amenidades. Odiava o destempero e a rudez com que alguns empregados expunham suas qualificações. Não bastasse o silêncio inerente ao zelo de seus atos, teria agora o temor ao novo e mais antigo opressor. Ríspido e enfático, sempre disposto ao martírio de suas monções. Saiu de sua sala com o olhar perdido de quem fita o óbvio e se desfalece. Era preciso recomeçar sem mesuras o incólume torpor. Pensar naquilo lhe causava náuseas e um rato a correr pelos corredores novamente lhe indispôs. Retirou do bolso da casaca um pequeno grilo e decepando-lhe as patas se sentou e comeu. E de novo outro grilo, até escurecer. Guardou suas espátulas no armário e aproximou-se dos outros para o cerão. A cabeça entre os ombros, o peito inflamado e um rouco pigarro ecoaram no corredor. Os ruídos mudos das patas do rato guinchavam ao lado causando-lhe horror. Regurgitou. Era mais uma noite fria entre o balde e o esfregão.

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